sábado, 3 de outubro de 2009

Ser verdadeiro num mundo de aparências!...
















Não sei quantas pessoas ontem (02.Outº.2009), ao verem a sessão do concurso “Jogo Duplo” se terão interrogado sobre um aspecto aparentemente sem importância, mas profundamente revelador de um ambiente de aparências, de máscaras, de simulações. Aquele jogo supõe o “bluff”. E, naquela sessão, um dos concorrentes apresentou-se como padre. Os outros concursantes não o tomaram como tal. E ele foi dizendo, em cada momento o que ia sentindo. E afirmava que estava a dizer a verdade. Mas não o tomavam a sério. E chegou-se à final. Ele disse que ia carregar no botão. E fê-lo. Mas o outro concorrente, pensando ser mentira, antecipou-se e carregou também. O concorrente António (no caso, o padre) acabou por ganhar a sessão tendo estado sempre em último lugar! O outro concorrente, o Almiro, ficou estupefacto, pois ele tinha sido, durante todo o concurso, quem se encontrava em primeiro lugar. E ele disse que, de facto, nunca acreditara no que o António dissera. Ou seja, neste mundo de aparências, dizer a verdade não é inteiramente expectável. Parece preferirmos a mentira ou a meia-verdade. Medo de chocarmos ou outros? Medo que também eles nos confrontem com a verdade? As águas estagnadas parecem ser o nosso elemento… esquecendo-nos que só a corrente vigorosa da verdade nos libertará.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Laureano Barros: rectidão, verticalidade, Homem


Impossível ficar indiferente ante a grandeza de um Homem como Laureano Barros, de quem poucos ouviram falar. No Público de Domingo passado, dia 5 de Julho de 2009, na secção P2 (Cultura), há um suculento texto de Paulo Moura. Vale a pena lê-lo e digeri-lo. Ficaremos mais enriquecidos.

Procura-o em: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1390333&idCanal=14

Não darás o teu tempo por desperdiçado.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

terça-feira, 28 de abril de 2009

Con-formar-se ou re-agir?






Reflectindo sobre o momento que vivemos, qualquer que seja o sector para onde voltemos a nossa atenção (política, economia, educação, sociedade, Igreja), mas centrando-me mais na área onde exerço a minha profissão (a escola, a educação), vem-me sempre à mente o apólogo de Machado de Assis que transcrevo. O comentário, a aplicação à nossa situação, deixo-o para ti que tens a bondade de me ler e de, como ser inteligente, formares a tua própria opinião, seguires a tua cabeça. Eis o suculento conto do autor brasileiro:

A AGULHA E A LINHA

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e activa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

Machado de Assis

(Publicado originalmente em Gazeta de Notícias, 1885)

sábado, 21 de março de 2009

Deficientes?!!! Eles ou nós?

Li hoje um texto que me impressionou: como foi acolhido e amado pela sua família mais directa (pais e irmãos) um portador do síndrome de Down. Com a devida vénia da Voz Portucalense (Ano XXXVII - Nº 11, 18/03/2009), transcrevo aqui o texto. Comentários? Que pequeno me sinto para os fazer. Apenas julgo que também tu, como eu, nos deixamos interpelar por gestos e atitudes como as que esta família teve.
Eis o texto:

Em nossa casa morou um anjo

Miguel e Idalina têm quatro filhos. O mais novo, o Francisco, quando nasceu a Idalina já tinha 43 anos. Os filhos tinham 15, 13 e 11anos. Contrariando a opinião dos médicos, o casal e os três filhos aceitaram o seu nascimento apesar de tudo indicar que seria portador de síndrome de Down, vulgarmente (mal) designada por mongolismo.
O nascimento do Francisco foi preparado com o cuidado e o carinho dispensados aos irmãos. Estes entenderam que o Francisco, apesar da doença, era um irmão muito querido a quem nada podia faltar.
Aos sete meses, os médicos descobriram que o Francisco era também portador de uma deficiência que o impediria de falar. Meses mais tarde, outra descoberta médica: o Francisco não poderia andar.
O casal e os outros filhos foram descobrindo qualidades extraordinárias no Francisco. Sorria muito e gostava de acariciar os pais e os irmãos. Sempre que via alguém triste ou preocupado manifestava o desejo de se aproximar, para cobrir de beijos e de carinhos a pessoa em causa.
Por volta dos sete anos manifestou o desejo de aprender a ler. A irmã mais velha, na altura estudante universitária, não teve qualquer dificuldade em capacitá-lo a escrever, passando desta forma a expressar-se com mais facilidade. Eram admiráveis as pequenas mensagens para os pais e para os irmãos. Tornou-se rapidamente um homenzinho. Por sua vontade foi inscrito numa escola especial, mas pouco tempo depois a sua saúde ressentiu-se. Escreveu na altura à mãe: “Enquanto estou na escola, podes ir às compras, ao cinema ou falar com as tuas amigas”.
Tinha completado dez anos há poucos dias, quando no dia do pai, escreveu: “Como posso agradecer o amor do meu pai?” Fez um desenho de um anjo que tentava sair da terra em direcção ao céu. Quando à hora de jantar, ao colo da irmã mais velha, ia entregar o desenho ao pai, soltou um leve gemido e morreu.
O Miguel viu no desenho a despedida do Francisco. Ninguém ousou chorar. Reclinaram o seu corpo na sua cama e todos ali ficaram horas sem fim a contemplar aquele anjo que Deus lhes enviara.
Os pais e os irmãos do Francisco mandaram gravar o desenho do anjo numa placa de granito que colocaram junto à entrada principal da casa, com a legenda: Em nossa casa morou um anjo.

António Jesus Cunha

in: http://www.7arte.net/cgi-bin/VP/editorwww/ler_seccao2.pl?17|5

quarta-feira, 4 de março de 2009

Revolução ética: PRECISA-SE!

O "Público" de hoje, 04.03.2009, publicou a seguinte notícia: "Fisco cortou benefícios fiscais por dívida de 1,97 euros", com o ante-título "Processo começou em 2004, mas só este ano foi resolvido".
Esta situação, a ser verdadeira como parece, é simplesmente obscena! Que medida punitiva poderá ser aplicada aos gestores (públicos e privados) que delapidam o dinheiro dos contribuintes, não no montante de 1,97€ mas em milhões de euros?
Haja moralidade!
Parece ser necessário um 25 de Abril ético.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Obama cita um hadith do Profeta Maomé

No Público de hoje, página 38, Faranaz Keshavjee, comenta um acto do presidente Obama. Como destaque do seu artigo de opinião, o jornal escolheu a seguinte passagem: "Obama não é um messias, nem um profeta, mas distingue-se de outros líderes pela sua sabedoria sobre as várias fés".
Importa reter o gesto de Obama (embora no cumprimento de uma tradição que vem já de há mais de 50 anos), bem como o forte apelo à cooperação que é necessária entre todos, quaisquer que sejam as suas convicções religiosas, mesmo as que negam qualquer fé.
A dimensão da fé é um elemento integrador da pessoa e da sua acção. Não pode — nem deve
ser nem escondida nem esquecida.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Messianismos...


Tempo de crise deve ser tempo de discernimento, de julgamento, de clarificação, como decorre do termo origem de crise ― krinéin (gr.): julgar.

Em alturas difíceis, acontece o geral das pessoas suspirar pelo surgimento de alguém que salve. Espera-se a chegada de um “messias”.

Ocorreu-me isto agora que Barack Hussein Obama tomou posse como 44º presidente dos EUA.

A sua figura, o facto de marcadamente ter raízes africanas directas, a sua campanha, tudo isto gerou um invulgar movimento entusiástico de adesão a ele e às suas teses. E com razão.

Admiro a sua naturalidade e frontalidade, a sua simplicidade e simpatia, o seu projecto de renovação.

E o interesse que a sua tomada de posse suscitou foi apenas o corolário de toda a expectativa iniciada na sua nomeação para candidato a presidente pelo partido democrático.

Temo apenas que o capital de confiança nele depositado tenha efeitos narcóticos e anestesiantes: as pessoas, depositando nele as suas fundadas esperanças de mudança, se esqueçam que também lhes toca um papel na construção de um mundo melhor.

Ele é o presidente dos EUA, não o messias.

Não nos podemos demitir.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Brincadeira de mau gosto?!...







Delicioso o texto (comentário) do Ricardo Araújo Pereira.

Procura-o em aeiou.visao.pt/Opiniao/ricardoaraujopereira/Pages/Circunspeccaodemaugusto.aspx