domingo, 24 de outubro de 2010

TRANSPLANTES









Uma das mais notáveis aplicações do avanço da medicina patenteia-se nos transplantes. Cuidadosamente preparados, o seu êxito permite não apenas um prolongamento mas, e principalmente, uma melhor qualidade de vida ao seu beneficiário.
Dos problemas mais sérios que a medicina teve (a ainda tem) de enfrentar para o sucesso de qualquer transplante é o da rejeição do(s) órgão(s) implantados no receptor. O seu organismo detecta-o(s) como estranho(s) e reage procurando a sua expulsão (rejeição). Para que tal não suceda, são ministrados ao paciente tratamentos que diminuem o seu poder de defesa perante organismos e órgãos estranhos, evitando, deste modo, a sua rejeição e consequente colapso.
Lembrei-me disto e dos imunodepressores perante a onda de “transplantes” que está a acontecer no nosso ensino: os mega-agrupamentos.
Num quase desprezo pelo trabalho das Direcções e das equipas que lideravam (direcção, departamentos curriculares, outros), num ano de transição, logo, de adaptação e de dificuldades, os “cirurgiões”, mesmo sem a declaração de autorização de doação de órgãos, tomaram a peito a maquinação de criaturas monstruosas (monstruosas, sim, porque o que nasce grande e não pequeno é monstruoso!...), juntando escolas, não importa a que preço. E, para que a operação tenha sucesso, evitando o colapso derivado da rejeição, ministram-se doses massivas de imunodepressores. Nota-se, por isso, nas escolas, seja entre o corpo docente, seja entre o pessoal não-docente, uma certa letargia, um anestesiamento, um alheamento face a esta situação. É a sensação de impotência perante o inelutável. Para além de um clima de desconfiança, de “surdez” perante os outros, que funciona como uma espécie de defesa da própria pessoa, da dignidade de um corpo activo e actuante, capaz de discernimento e autonomia, mas que acaba passivo, abúlico, exangue.
Os “cirurgiões” é que sabem. Mas, quem sofre é o mexilhão, agora que o mar bate forte e feio na rocha.
Pobre ensino. Em que bolandas te meteram.

2 comentários:

MFA disse...

Parabéns! Gostei muito do teu texto! Que tal te sentes como mexilhão? Eu sinto-me com imensa comichão, com tonturas ao andar na corda banda tal como uma marioneta.
Bjcs
Fernanda

Anónimo disse...

Mas o mexilhão é forte, sobrevive na batida das ondas, cresce livre mar...