sábado, 13 de novembro de 2010

Um excepcional filme contra a indiferença: "Dos homens e dos deuses"

Tive ontem a oportunidade de ver o filme de Xavier Beauvois, "Dos homens e dos deuses", que obteve o Grande Prémio no Festival de Cannes de 2010, para além de outros prémios. 
Sóbria a realização, relata-nos um acontecimento verídico, ocorrido na Argélia, nos anos 90, em que 7 monges da comunidade cisterciense de Tibhirine são massacrados. Apanhados no "fogo cruzado" entre um governo corrupto e fundamentalistas islâmicos durante a guerra civil argelina, em 1996, são instados, quer pelo governo quer pelos extremistas islâmicos, a abandonar o mosteiro e a população que vive nas imediações e a quem prestam assistência.
O realizador mostra viva e claramente o drama íntimo de cada um deles: ficar significa certamente morrer. E porquê? Em nome do quê? Fugir? Porquê? O que é ser fiel ao chamamento de Deus naquele contexto? E ainda a luta interior do responsável da comunidade por quem foi eleito superior: como a conduzir, como servi-la e servir as pessoas junto de quem estão? Serenidade, firmeza, solidariedade, entrega total. E a comunidade atingirá a unanimidade na sua decisão final.
Impressionou-me muito, entre outros apontamentos, uma imagem que os monges usam e referem aos aldeãos referindo a possibilidade de terem de sair dali: "Nós somos como aves num ramo sem saber quando levantar voo". Ao que uma mulher returque: "Não, nós é que somos as aves que poisam na árvore que sois vós. Se saírdes, não temos onde pousar!"
Neste tempo de extremismos e de violência, importa deixar-se interpelar por gestos como este que o filme espelha: somos questionados sobre o nosso comportamento para com os outros que, porque diferentes mas e, principalmente, porque pessoas, devemos escutar, aceitar e respeitar na sua diferença e nos seus valores.
Embora com muitas diferenças, não pude deixar de recordar o belíssimo texto (conto) de Ferreira de Castro: "A Missão"

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