O Principezinho
Em
Portugal estreou há pouco a adaptação da obra-prima de Antoine de Saint-Exupéry,
O Principezinho.
Trata-se
de um filme de animação realizado por Mark Osborne, que usa junta duas tecnologias
distintas da animação, com funções diferentes: sequências em 3D
(tridimensional), que apresentam a história de fundo (a menina e o seu vizinho,
o aviador), e as cenas em stop-motion, que mostram alguns dos mais significativos episódios do livro O Principezinho,
tal como como vêm na obra de Exupéry. Produzido pela Onyx Films, com argumento
de Irena Brignull, o filme original, é em francês.
O
filme é mais do que uma simples adaptação da história do Principezinho. E, para mim, trata-se de uma excelente recriação a
partir da prosa poética de A. Saint-Exupéry.
E,
tal como a genial obra de Exupéry, que parecendo ser feita para as crianças
mais se dirigia aos adultos, lembrando embora a criança que há em cada um de
nós, também esta película, que as crianças vêem com muito agrado e satisfação,
interpela fortemente os adultos.
A terna
e incisiva poesia está bem presente ao longo de todo o filme. Os valores — a amizade,
a solidariedade, o deslumbramento, a afirmação pessoal, a atenção ao outro,
etc. — são patentes e explícitos. Mas, nesta recriação, a crítica mordaz e
certeira aos desmandos desta sociedade de consumo manifesta-se com exuberância.
Não
é uma estória delico-doce a desta criança, obrigada ser formatada por uma “educação”
que só pretende resultados (e excelentes!) e, por isso tudo é programado ao
pormenor (mesmo a amizade com alguém!), roubando-lhe a infância, a alegria, a
diversão. É uma crítica fortíssima ao cinzentismo desta civilização, à busca
desenfreada do lucro.
Impressionou-me
muito, entre outros, o plano quase inicial do filme onde, a cidade em que vive
a pequenita, se vê a partir do espaço (mais parecendo uma placa de computador!)
e se vai aproximando até ao nível das ruas, com o movimento dos veículos e das
pessoas. Tudo muito síncrono, muito ordenado, muito igual, onde não há espaço para
o diferente, para a poesia. Essa só surge quando, ao lado da casa que a mãe
comprou está uma edificação não rectilínea, mas cheia de cor e de natureza a envolvê-la!
E que muito vai influenciar a menina.
A
película tem ritmo, tem movimento, não é nada monótona. A música está muito
adequada e acompanha em perfeição toda a acção. A imagem é belíssima.
Mas,
mais importante que estes aspectos técnicos, este é um filme que faz pensar,
mesmo a divertir. Para mim, um filme a não perder.
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